No Brasil, tanto grandes capitais, quanto municípios do interior, vêm buscando integrar o físico e o virtual
Por Eliria Buso
As Smart Cities na América Latina estão se desenvolvendo rapidamente, com diversas cidades adotando tecnologias avançadas para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e a eficiência dos serviços públicos.
A América Latina é uma das regiões mais urbanizadas do mundo, com mais de 80% de sua população vivendo em áreas urbanas. E isso traz inúmeros desafios para os gestores públicos, que devem estar sempre em busca de ferramentas e tecnologias para desenvolver cidades sustentáveis, seguras e que proporcionem bem-estar à sua população.
Ou seja, é um mercado amplo para o desenvolvimento das cidades inteligentes. Segundo levantamento da Deloitte, o mercado de soluções para as Smart Cities vem crescendo, de maneira anual, 21,45% entre os anos de 2019 e 2025. Além disso, neste período, o mercado global está movimentando algo em torno de US$ 250 bilhões, e a América Latina, cerca de US$ 100 bilhões.
Não à toa, as grandes cidades da região já têm importantes projetos que seguem o conceito de Smart City, utilizando ferramentas digitais para criar uma sociedade mais sustentável e inteligente, englobando desde as soluções de transportes até a eficiência energética.
São Paulo, por exemplo, é uma das cidades mais populosas da América Latina e está se tornando uma das mais inteligentes. A cidade está investindo em tecnologias avançadas para melhorar o transporte público, reduzir a poluição e aumentar a segurança.
Já a Cidade do México vem enfrentando desafios como poluição, congestionamento do tráfego e segurança e, para enfrentar esses desafios, está buscando tecnologias como sensores de tráfego, câmeras de segurança e iluminação inteligente.
Medellín, na Colômbia, é uma cidade que se transformou rapidamente nos últimos anos, passando de uma cidade perigosa para uma segura e próspera. A cidade está usando tecnologia para melhorar a segurança, reduzir a violência e aumentar o acesso a serviços públicos.
Da mesma forma, Buenos Aires, na Argentina, está investindo em tecnologias para melhorar o transporte público e reduzir a poluição. A cidade está usando sensores para monitorar a qualidade do ar e está trabalhando em projetos de mobilidade inteligente, como bicicletas elétricas e carros autônomos.
Ou seja, as smart cities na América Latina estão adotando tecnologias avançadas para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e aumentar a eficiência dos serviços públicos. Essas cidades estão enfrentando desafios significativos, mas estão fazendo progressos notáveis no uso de tecnologia para enfrentar esses desafios.
Para entender este momento de desenvolvimento não só no Brasil, como em toda a região, o Jornal do Interior conversou com o head de Cidades Inteligentes da NEC no Brasil, Elias Reis.
JI – Quais fatores influenciam no aumento de cidades inteligentes na região da América Latina?
Podemos entender que as cidades, de maneira geral, estão sendo influenciadas pelos seguintes fatores, cada qual com a sua particularidade:
O fator segurança tem grande influência sobre esse avanço, justamente por ser um problema persistente e crescente em quase todos os países da América Latina. Por isso, estes municípios buscam cada vez mais proteger sua população investindo em sistemas integrados de vigilância e controle de operação.
Podemos abordar também a crescente dificuldade de mobilidade nas grandes cidades. Nos últimos anos, um movimento crescente de pessoas saiu do campo para habitar nas cidades, condensando as grandes metrópoles e fazendo com que o fluxo de pessoas e veículos aumente consideravelmente. Esse fenômeno exigiu do poder público medidas eficazes que viabilizem o transporte, agilidade no trânsito, facilidade de estacionamentos, entre outros.
Por último, podemos considerar as alterações climáticas e constantes agressões ao Meio Ambiente, fazendo com que as cidades tenham cada vez em maior proporção importantes consequências, como inundações, desmoronamentos, péssima qualidade de ar, entre outras questões.
Essas ocorrências fazem com que esses municípios invistam em tecnologias IoT (Internet das Coisas) a fim de reduzir risco de mortes por meio da implantação de alertas enviados por sensores, que permitem que o poder público possa tomar medidas necessárias com maior agilidade.
JI – Como o avanço das cidades inteligentes auxilia a região a assumir um papel global mais relevante?
De certa forma, cidades inteligentes são mais seguras, transparentes e, de forma global, podem abrir portas para grandes investimentos provenientes de empresas, além de fomentarem o turismo nas regiões que vivem desta forma de renda.
JI – Como as cidades inteligentes contribuem para o enfrentamento do aumento populacional nas áreas urbanas?
O crescente aumento populacional nos grandes centros traz novas demandas ao poder público, como segurança, maior organização diante do excesso de veículos, pessoas, entre outras situações. Através do desenvolvimento de projetos, como centros de comando e controle, promoção da segurança da população, adoção de governança eficiente, que permite a interação do poder público com a população, bem como sistemas de gestão de trânsito e pessoas e o monitoramento ambiental, de forma automática, os cidadãos conseguem ter uma melhor qualidade de vida no dia a dia. Isso porque podem se sentir mais seguras, se locomoverem com mais agilidade, e têm liberdade de interagir com quem está na gestão de toda cadeia.
JI – Quais as principais vulnerabilidades da América Latina devem ser levadas em consideração no planejamento das cidades inteligentes?
Em alguns municípios, os desafios são a ausência de infraestrutura necessária, falta de foco e planejamento na gestão pública e a necessidade de desacoplar iniciativas do ciclo eleitoral de quatro anos, levando em consideração, principalmente, que alguns projetos podem demorar um pouco mais para se desenvolver. Afinal, um plano de ação com etapas é fundamental para um município ir adiante em Smart Cities.
JI – Qual a importância da segurança na construção da infraestrutura das cidades inteligentes?
Mais conectividade gera mais risco: vulnerabilidades cibernéticas. Os ataques cibernéticos são parte da vida diária do setor privado e o uso crescente das tecnologias de cidades inteligentes estenderá esse risco, inevitavelmente, ao setor público. No entanto, as cidades devem estar muito atentas a estas questões. Não basta querer implantar a tecnologia. O provedor necessita ser eficiente e oferecer a segurança de dados necessária. Afinal, muita informação está em jogo.
JI – Como levar o conceito de cidade inteligente para o dia a dia dos cidadãos?
Fazendo com que eles se sintam parte do processo. Incentivando o uso da tecnologia, através de aplicativos que permitem a interação entre o poder público e o cidadão. Hoje, todos estão conectados o tempo todo. É muito interessante o cidadão saber que ele pode ter todas as informações da cidade em apenas um clique, ou seja, na palma da mão.
JI – Como as Smart Cities podem auxiliar nos principais problemas atuais de gestão?
Através da integração de sistemas e comunicação entre as mais diversas secretarias do município, a fim de entender as convergências, as divergências e as necessidades de cada uma delas. Uma vez conectadas, temos informações compartilhadas, de uma forma que é possível gerar análise preditiva, gráficos para auxiliar na tomada de decisões, além de dados que permitem que a gestão seja cada vez mais útil e eficaz.
JI – Qual a importância das parcerias público-privadas no desenvolvimento das Smart Cities?
É de suma importância essa parceria, afinal, quando falamos de uma cidade inteligente, estamos falando de muitas informações e necessidades de valor. Tanto para o cidadão quanto para a gestão pública e para que esse desenvolvimento seja eficaz, é necessário conhecer o ecossistema de provedores de soluções tecnológicas, cada qual com sua excelência. Eles podem trazer ao município tecnologia de ponta, atendendo às mais diversas necessidades, a exemplo do fornecimento de câmaras de alta resolução, análises forenses, sensores IoT, sistemas, entre outros, ferramentas nas quais empresas privadas investem a todo momento em estudos e novos desenvolvimentos.
Leia a matéria completa na edição 192 do jornal do Interior News de Março (PÁG. 6 e 7), clique aqui.