Idosos conquistam mais espaço no mercado de trabalho paulista

Em um cenário de envelhecimento populacional, profissionais experientes se destacam

O Brasil tem experimentado um fenômeno demográfico que se reflete em diversas áreas da sociedade: o envelhecimento da população. Em São Paulo, essa tendência está gerando mudanças significativas no mercado de trabalho. Segundo dados do Seade, entre 2014 e 2023, a presença de idosos na força de trabalho paulista aumentou consideravelmente, passando de 5,9% para 8,3%, o que representa um crescimento de 56,3% no número de profissionais com 65 anos ou mais. Esse aumento reflete a mudança no perfil etário da população, impulsionado por fatores como o aumento da longevidade, a necessidade de complementação de renda e a prolongação da vida economicamente ativa.

Em 2023, a força de trabalho no Estado de São Paulo totalizou 26,4 milhões de pessoas, 13,4% a mais do que em 2014. A ampliação dessa força de trabalho também foi impulsionada pelo crescimento da participação dos idosos. Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), o contingente de idosos na força de trabalho cresceu 56,3%, enquanto no interior do estado o aumento foi de 60,1%. 

O aumento no número de idosos ocupados tem relação direta com a necessidade de complementação de renda, principalmente após a aposentadoria, e também com a capacidade cada vez maior das pessoas de manterem-se ativas por mais tempo. A evolução da medicina e dos cuidados com a saúde tem permitido que a população idosa se mantenha em boa forma física e mental, o que facilita a continuidade no trabalho por mais tempo.

Inclusão em diversos setores

Em São Paulo, a maior parte dos idosos que estão no mercado de trabalho está ocupada em serviços, representando 58,2% dos ocupados, especialmente em áreas como consultoria, atendimento e outros setores que demandam habilidades interpessoais. A indústria também viu um aumento na participação de idosos, especialmente no interior do estado. Os dados mostram que, embora a agricultura e o comércio tenham perdido participação no número de idosos ocupados, setores como construção civil e serviços têm se tornado cada vez mais importantes para esse grupo.

Contudo, apesar do aumento na participação dos idosos no mercado de trabalho, os dados mostram que apenas uma pequena parcela deles está em empregos formais. Em 2023, apenas 29,8% dos idosos ocupados tinham emprego formal, enquanto o restante, 70,2%, estava em formas de ocupação mais informais, como autônomos ou em trabalhos temporários. Isso pode ser atribuído à dificuldade que esse grupo encontra em se adaptar às exigências do mercado de trabalho atual, como o uso de tecnologias e a digitalização das funções corporativas. No entanto, a adaptação digital é um desafio superável, como observa Mórris Litvak, CEO e fundador da Maturi, plataforma que conecta profissionais 50+ com empresas.

“Nos últimos anos, percebo uma maior conscientização sobre a importância de valorizar profissionais mais experientes. Ainda existe muito a avançar, mas já vejo empresas paulistas começando a buscar ativamente esse público, seja por necessidade de experiência ou por entenderem o valor de uma equipe multigeracional”, afirma Litvak, que acompanha de perto a inclusão dos profissionais 50+ no mercado de trabalho. Ele também aponta que, apesar dos avanços, ainda há desafios, como o preconceito velado que muitos profissionais mais velhos enfrentam ao buscar recolocação.

Em relação a setores mais receptivos, Litvak destaca que as áreas de serviços, como consultoria e atendimento, além do varejo e de empresas em transição, como startups e empresas familiares, têm se mostrado mais abertas para os profissionais mais velhos.

Entretanto, as empresas brasileiras ainda têm muito a evoluir quando o assunto é integrar profissionais 50+ de maneira plena no mercado de trabalho. “Falta principalmente conscientização de que a diversidade etária enriquece a equipe com visões diferentes e complementares”, explica Litvak. Ele acredita que, para que o mercado de trabalho seja realmente inclusivo, as empresas precisam adotar uma cultura corporativa mais aberta à troca de experiências e ao aprendizado contínuo. Além disso, é fundamental que as organizações criem programas de capacitação que atendam às necessidades dessa faixa etária.