Fabricio Moreira assume a FDE com o desafio de modernizar a infraestrutura das escolas
No último mês de setembro, Fabricio Moura Moreira assumiu a presidência da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) em um momento crucial para a educação pública paulista. Com vasta experiência em gestão na administração pública federal, o engenheiro formado pelo ITA e mestre pela Fundação Dom Cabral traz consigo o desafio de conduzir os investimentos em infraestrutura nas escolas estaduais, garantindo a eficiência na aplicação de recursos e a qualidade do ensino.
Moreira ocupou cargos de destaque em âmbito federal e, após contribuir com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo como Chefe de Gabinete e Coordenador de Infraestrutura e Serviços Escolares, assume a FDE com a missão de aprimorar o ambiente escolar e fortalecer a rede de ensino paulista. Em entrevista ao Jornal do Interior, aborda suas prioridades, desafios e perspectivas para a educação no estado.
Jornal do Interior – Você assumiu a presidência da FDE em um momento de grande investimento em infraestrutura nas escolas estaduais. Quais são suas prioridades para dar continuidade a esse processo e garantir que os recursos sejam utilizados da forma mais eficiente possível?
Fabricio Moreira – Atuamos em várias frentes simultaneamente, mas temos cinco pilares prioritários no curto prazo: infraestrutura de qualidade, ampliações, climatização, educação profissional e acessibilidade.
A FDE tem aproveitado esses dois anos de gestão para fazer uma série de intervenções importantes de engenharia para recuperar as edificações escolares e garantir que a infraestrutura das nossas escolas esteja adequada e segura para que os estudantes possam frequentar as unidades de ensino.
Mais espaços pedagógicos disponíveis vão permitir a expansão da educação profissional e, também, do número de escolas no Programa de Ensino Integral (PEI). Então, é muito importante viabilizar as ampliações desses espaços físicos nas escolas, isso está muito bem mapeado, tem um estudo detalhado, elaborado pela Secretaria da Educação, para, de fato, fazermos as intervenções onde a rede precisa.
Temos também, já em andamento, o programa de climatização, que precisa avançar rapidamente. São 1.056 escolas que a gente pretende climatizar até o início do ano letivo de 2025. Esse é um desafio muito grande que o governador Tarcísio de Freitas nos passou.
Outro ponto de atenção importante está na educação profissional. Nós queremos chegar num percentual de estudantes na educação profissional de países da OCDE, que é em torno de 40%. Em 2025 já vamos chegar em 30% dos alunos do ensino médio participando da educação profissional. Para isso, é necessário intervir nas escolas, em especial nos laboratórios de enfermagem e de farmácia. Essas obras estão acontecendo e vão ser entregues dentro do prazo.
Tudo isso só faz sentido se todos os nossos alunos puderem desfrutar desses ambientes. E para que isso seja possível, precisamos garantir escolas acessíveis em todos os municípios, em todos os bairros. Estamos trabalhando duro para isso. Investimos mais de R$ 300 milhões nesses dois anos de gestão, que é um valor significativamente superior ao que foi aplicado nos dez anos anteriores.
JI – Como avalia a possibilidade de implementar novas tecnologias e inovações na gestão da FDE e no dia a dia das escolas estaduais?
FM – A FDE está sempre atenta às novas tecnologias, às inovações na gestão para que possamos entregar um serviço de qualidade para a população. Avaliamos constantemente técnicas construtivas modernas, que possam ser mais ágeis, que ofereçam um menor transtorno para a comunidade escolar durante as intervenções nas escolas. Isso também se reflete quando construímos escolas novas. Então, do ponto de vista de engenharia, estamos buscando cada vez técnicas mais modernas.
Ao mesmo tempo, é necessário ter um olhar cuidadoso do ponto de vista da gestão: a FDE precisa assegurar que sejam gerados dados e informações corretas do que está acontecendo em cada um dos nossos mais de 5 mil prédios da rede de ensino no estado de São Paulo. Isso nos ajuda no monitoramento do que está acontecendo nas escolas e, assim, podemos fazer a melhor alocação dos recursos, responder rapidamente quando e se houver algum problema e ter uma atuação preventiva com o objetivo de evitar que o algum problema aconteça.
Assim, já realizamos nesses dois anos de gestão mais de 2.400 intervenções nas nossas escolas, com mais de 1 milhão de estudantes beneficiados. Esse número representa atuação em mais de 40% da nossa rede. É um volume muito expressivo e mostra que a FDE está atenta ao que está acontecendo nas escolas e, também, que seguimos nesse processo de aperfeiçoamento por meio de ferramentas de gestão de dados para poder, de fato, atingir toda a rede na medida da necessidade dela.
JI – Como o FDE pretende fortalecer a comunicação e o diálogo com a comunidade escolar (alunos, pais e professores) para que a organização atenda às necessidades da rede de ensino de forma mais eficaz?
FM – A rede estadual de ensino de São Paulo é subdividida em 91 Diretorias Regionais de Ensino. Essas regionais ajudam muito a Secretaria da Educação e a FDE nessa interface com a ponta e nesse diálogo com a comunidade escolar. Então, é por meio delas que detectamos diversas necessidades de intervenção de engenharia, questões relacionadas à tecnologia e a suprimentos de um modo geral. As Diretorias de Ensino estão sempre muito próximas da FDE: há encontros periódicos, reuniões online, conversas por telefone e por WhatsApp. Portanto, há um contato bastante estreito para que a gente possa entender a realidade lá da ponta. A FDE também se aproxima da comunidade escolar por meio dos supervisores regionais, engenheiros e arquitetos, que ficam espalhados pelo estado. E, claro, os servidores que trabalham na Fundação procuram visitar as escolas regularmente.
Então, sempre que recebemos algum tipo de reporte procuramos rapidamente atender as demandas.
JI – Você tem uma vasta experiência em cargos de gestão na Administração Pública Federal. Como essa experiência contribui para sua atuação na FDE e quais os principais aprendizados que pretende aplicar em sua gestão?
FM – A experiência na Administração Pública Federal ajuda na gestão da FDE sob duas perspectivas muito importantes. A primeira delas é de profissionalismo na gestão pública, de fazer o nosso trabalho de modo muito sério, sempre voltado para a realização, para entregas e para geração de resultados efetivos. Queremos uma política pública sempre efetiva, que gere impacto positivo na vida das pessoas. Isso nos leva à segunda contribuição que essa experiência me deu, que é pensar sempre na população, o interesse público vir em primeiro lugar. Então, toda a experiência obtida no governo federal foi no sentido de beneficiar a população.
No governo do estado de São Paulo, em especial na educação, o que realizamos está muito mais próximo da sociedade e nós conseguimos aqui, de modo muito mais claro, ter uma devolutiva desse impacto que a gente gera. Está sendo muito bacana, muito legal essa experiência no governo do estado de São Paulo, porque podemos realizar política pública com um feedback muito mais ágil, saber se aquilo que a gente implementou realmente mudou a vida das pessoas. E tenho percebido muito isso nesses 23 meses de governo: realizações grandes que a educação do estado de São Paulo gerou com uma série de iniciativas, em especial na infraestrutura das escolas.
JI – Para finalizar, gostaríamos de conhecer um pouco da sua visão sobre o futuro da educação pública no estado de São Paulo. Quais os principais desafios e como a FDE pode contribuir para a construção de um sistema educacional mais justo e de qualidade para todos?
FM – Eu entendo que a gestão da educação no estado de São Paulo está na direção certa. A pasta da Educação está com uma série de iniciativas bem robustas e contundentes para colocar a educação do estado de São Paulo onde ela merece estar. Há um forte investimento em diversos programas que completam todo o ciclo do estudante, desde a alfabetização até o ingresso e permanência desse estudante na universidade. Temos o Programa Alfabetiza Juntos, que trata da formação de professores, material didático, avaliação de influência leitora, enfim, tudo para garantir que o nosso aluno esteja alfabetizado na idade correta. Depois cuidamos desse estudante durante todo o ensino fundamental e o ensino médio para garantir uma educação de qualidade. Não tem por que a escola pública ser diferente da escola particular, não tem nenhuma razão para isso.
A FDE atua em três frentes bem importantes para garantir esse sucesso. A primeira delas é de infraestrutura das escolas. Um ambiente agradável, em que o aluno se sinta bem, contribui muito para a frequência escolar. Também trabalhamos numa frente de tecnologia, enfatizando muito a questão da conectividade nas escolas. Estamos com uma gestão educacional bastante moderna, muito digital, e a gente precisa cada vez mais garantir a conectividade das escolas para que tudo esteja funcionando a contento. E a terceira frente está relacionada aos suprimentos de um modo geral. Tudo o que a escola precisa de serviços, acessórios para o seu funcionamento. E a FDE tem uma atuação muito relevante nesse sentido, em todas essas frentes, não só na rede estadual, mas também em apoio aos municípios paulistas.