Resultado quase triplica volume do ano anterior e fortalece integração entre meio ambiente e comunidades
Nos primeiros três meses de 2025, o litoral paulista testemunhou um avanço expressivo no combate ao lixo marinho: o programa Mar sem Lixo retirou 29 toneladas de resíduos do mar e de ecossistemas costeiros, como manguezais e ilhas. O volume representa um aumento de 198% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram coletadas 9,8 toneladas. Mais do que uma conquista quantitativa, os números refletem o fortalecimento da confiança e do engajamento das comunidades tradicionais na iniciativa, coordenada pela Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) do Estado de São Paulo, por meio da Fundação Florestal.
Criado em 2022, o Mar sem Lixo é uma política pública voltada à conservação marinha e inclusão socioeconômica. Em 2024, o programa deu um passo importante ao incluir a limpeza de manguezais como atividade remunerada durante o período do defeso do camarão, quando a pesca é proibida. Desde então, pescadores artesanais passaram a receber pelo serviço ambiental prestado, por meio do mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).
– Engajamento crescente
O crescimento dos resultados está diretamente ligado ao aumento da adesão dos pescadores. Em 2024, 200 profissionais estavam cadastrados no programa. Em 2025, o número saltou para 275. Mais do que isso: houve também maior participação nos mutirões. “Em 2024, primeiro ano da inclusão dos mutirões no PSA, a adesão não foi tão significativa quanto neste ano de 2025. Ou seja, o principal fator do aumento da quantidade de resíduos coletados foi o maior engajamento dos pescadores, o que demonstra, no nosso entendimento, o aumento da confiança deles no Programa”, explica Sandra Leite, coordenadora do Mar sem Lixo.
Como reflexo desse envolvimento, os recursos repassados via PSA também cresceram. De janeiro a abril de 2024, o valor pago foi de R$ 89.888. Já em 2025, entre janeiro e março, o montante chegou a R$ 137.225.
O município do Guarujá liderou o volume de resíduos coletados no trimestre, com mais de 17 toneladas. Bertioga e Ubatuba aparecem na sequência. Em janeiro, as ações se concentraram no mar, durante as operações de pesca com arrasto de camarão, antes do início do defeso. Nesse período, 109 pescadores retiraram 1,7 tonelada de lixo diretamente das águas.
– Plásticos ameaçam ecossistemas frágeis
O tipo de resíduo encontrado nas ações varia conforme a localização dos mutirões. Em manguezais próximos a áreas urbanas, predominam itens domésticos — móveis, eletrodomésticos, embalagens. Em regiões mais afastadas, prevalecem detritos trazidos por correntes marinhas, resíduos do turismo e da navegação. Mas um dado é comum a todos os contextos: o plástico representa mais de 90% do material recolhido.
Nos manguezais, além do plástico, são frequentes madeiras processadas e peças de borracha. Esses ambientes são ecossistemas sensíveis e estratégicos: servem de barreira natural, protegendo o litoral contra erosão, funcionam como berçários da fauna marinha, ajudam no sequestro de carbono e servem de base para o sustento de milhares de famílias. A presença de lixo compromete severamente esses serviços ecológicos, causa contaminação do solo, impede a recuperação e desenvolvimento da vegetação, causa mortandade da fauna e impacta a vida de inúmeras comunidades tradicionais.
– Área atendida e desafios
Atualmente, o Mar sem Lixo conta com Pontos de Recebimento de Resíduos Retirados do Mar (PRRMs) em Cananéia, Bertioga, Guarujá, Itanhaém, São Sebastião e Ubatuba. Esses pontos foram selecionados com base em critérios como número de embarcações, volume pescado, interesse das comunidades locais e disponibilidade de estrutura pública.
A adesão ao programa é voluntária e aberta a pescadores de arrasto de camarão com embarcações artesanais. Em 2025, são 279 cadastrados. A atuação, contudo, vai além do pagamento de PSA. Ao todo, 23 Unidades de Conservação Estaduais litorâneas recebem ações educomunicativas e mutirões de limpeza.
Apesar dos avanços, o programa ainda enfrenta obstáculos importantes. Segundo a Fundação Florestal, o maior desafio do projeto é a sua sustentabilidade a longo prazo e ampliação, que dependem de fontes de financiamento permanentes que não sejam apenas públicas. A Fundação destaca ainda a importância de investir em educomunicação, visto que tão importante quanto reconhecer e remunerar os serviços ambientais prestados pelos provedores, é urgente que a sociedade seja sensibilizada para que mude de comportamento e tenha hábitos de consumo consciente e economia circular.