Em São Paulo, os números da Covid-19 crescem a cada dia. Já são mais de meio milhão de contaminados e de 22 mil mortes, além de liderar o ranking como o Estado com mais casos da doença no Brasil. Em meio a este caos da pandemia, a Prefeitura de São Paulo, juntamente com o Governo do Estado, apoia a volta às aulas. Este fato causa uma grande problemática, que vem gerando diversos debates entre políticos, professores, pais e profissionais da saúde.
Na contramão do governo, a população, quase que em sua totalidade, se mostra contra a volta às aulas. De acordo com a análise da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o retorno às aulas coloca em risco a vida de 9,3 milhões de brasileiros que fazem parte do grupo de risco. O cenário mais preocupante é o do Estado de São Paulo, que tem mais de dois milhões de adultos e idosos que sofrem de condições crônicas e dividem espaço com estudantes.
São inúmeras as complexidades que a volta às aulas ocasiona. Além disso, outro grande problema, que parece esquecido pelo governo, diz respeito à precariedade em escolas públicas. Se no ensino particular esse tema já é controverso, os olhos que se voltam para o ensino público devem ser redobrados. Existem diversas escolas com péssimas condições de instalações, falta de itens de higiene, cortes de funcionários do setor de limpeza, entre inúmeros outros fatores. Como controlar, de maneira efetiva, o distanciamento entre as crianças? Como garantir que elas irão utilizar máscaras a todo o momento?
Fora das salas de aula, ainda existem outros perigos para os alunos. A locomoção até o ambiente escolar, principalmente em transportes públicos, tornam praticamente impossível obedecer ao critério de distanciamento, Por que, então, tamanha necessidade de uma volta às aulas tão precoce? Ora, se grandes eventos, como o Grande Prêmio de Fórmula 1 ou até mesmo o Carnaval de 2021, foram cancelados ou adiados devido ao grande grau de contágio, por que com as aulas têm de ser diferente?
Além dos alunos, os professores também foram afetados neste cenário de volta às aulas. Na manhã da última quarta-feira (29), houve uma carreata em frente à Assembleia Legislativa (Alesp), organizada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) contra o retorno das aulas, que contou com a presença de professores, trabalhadores do sistema público de saúde, movimentos sociais e apoiadores, que deixaram evidente seu descontentamento.
Está clara a insatisfação da população, de forma geral, com a decisão do Governo do Estado de São Paulo em estabelecer a volta às aulas e tudo o que isso implica. Diante disso, fica uma pergunta no ar: o que é pior, perder o ano letivo ou perder uma vida? Um se recupera, a outra não.
Jair Tatto é vereador (PT) na cidade de São Paulo e vice-presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte.
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