Sem a possibilidade de eventos corpo a corpo desde a eclosão da pandemia da covid-19 no Brasil em meados de março, os parlamentares tiveram de recorrer às redes sociais para atrair os eleitores e mostrar o que têm feito. As redes mais utilizadas são o Twitter, Facebook e Instagram, também mais populares no país.
Há parlamentares que afirmam fazer até 20 transmissões ao vivo – conhecidas como lives, em inglês – por semana, como o senador Major Olímpio (PSL-SP). Entusiasta do uso das redes antes da pandemia, ele diz que o distanciamento social impôs uma redução nas saídas às ruas, mas as plataformas online deram a oportunidade de continuar em contato com a população.
“O uso das redes sociais, sem dúvidas, cresceu durante a pandemia. Por meio delas, por exemplo, fiz questão de ouvir várias categorias que ficaram desamparadas e preocupadas nessa crise sanitária. Sem dúvida, minha agenda triplicou, e imaginei que não seria possível, mas, sem ter que me deslocar, deu para marcar agenda até de meia em meia hora. As redes sociais tornaram-se uma ferramenta digital essencial durante a quarentena”, falou.
Antes da pandemia, Major Olímpio costumava tomar café da manhã na padaria algumas vezes por semana e ir à feira para conversar com a população, além de comparecer a eventos militares no estado de São Paulo, seu principal público eleitoral.
O deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) também tem como base eleitoral pessoas ligadas à segurança pública. Por isso, se focava em eventos da área, como festas juninas corporativas, trocas de comando da Polícia Militar, solenidades em quartéis e formaturas – a mais importante sendo a da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, que forma oficiais para o estado de São Paulo.
Devido à pandemia, muitos eventos foram cancelados ou passaram a ter limitação de público. O deputado então também se voltou às redes para compensar a falta de proximidade direta e afirma que as interações nas mídias sociais cresceram. Ele acredita que, mais em casa, as pessoas ficam por mais tempo no celular lendo notícias e navegando pelas redes. A intensificação não acontece somente nos próprios perfis. A demanda também cresceu por parte de portais de notícias, formadores de opinião e eventos virtuais mediados por entidades, sindicatos ou empresas, afirmam parlamentares ouvidos.
Quem não se adaptar fica para trás
O cientista político da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Sérgio Praça afirma haver um núcleo de parlamentares muito atuantes nas redes sociais desde as eleições de 2018 e a pandemia tende a acelerar esse comportamento entre os demais. Ele observa que o corpo a corpo é da natureza política, particularmente em municípios pequenos. Por isso, os políticos menos preparados que não se adaptarem agora podem ficar para trás, diz.
“Assim como no mundo corporativo várias tendências se aceleraram, na campanha política também. Se não faz campanha pessoalmente, alguma coisa tem que substituir”, falou. As eleições municipais deste ano estão marcadas para novembro e ainda devem ocorrer em meio à pandemia. Vereadores e prefeitos estão diretamente relacionados ao trabalho dos parlamentares no Congresso. Portanto, parte do trabalho online dos senadores e deputados se dedica a atrair os eleitores para os pré-candidatos de sua preferência.
“Candidatos que estavam bem podem ficar mal num piscar de olhos em virtude de não ter acesso ao grande público para mostrar as propostas. Principalmente, candidatos não muito afeitos às redes sociais. Isso vai influenciar muito”, considerou o senador Angelo Coronel (PSD-BA). Ainda assim, espera que a situação da pandemia esteja melhor no final do ano para que os políticos tenham 45 dias de alguma campanha corpo a corpo.
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