São Paulo ocupa a 14ª posição entre os estados brasileiros, tendo 24% de secretárias mulheres
O primeiro Censo das Secretárias, realizado pelos Institutos Aleias, Alziras, Foz e Travessia Políticas Públicas, com o apoio da Fundação Lemann e Open Society Foundations, revela que apenas 28% dos cargos de secretariado em estados e capitais brasileiras são ocupados por mulheres. Esse levantamento mapeou 698 órgãos estaduais e 536 municipais entre novembro de 2023 e março de 2024, contabilizando 341 secretárias em todo o país. Apenas uma capital, Natal, e três estados — Alagoas, Pernambuco e Ceará — atingiram a paridade de gênero. Em contraste, 20 estados e 16 capitais não ultrapassaram o índice de 30% de secretárias.
O estudo destaca que a distribuição das mulheres nesses cargos concentra-se majoritariamente em pastas sociais, como assistência social, saúde e educação. Nas secretarias estaduais, 53% das ocupantes estão nas áreas sociais, enquanto nas capitais esse número é de 44%. Por outro lado, as mulheres têm menor presença em setores considerados estratégicos, como infraestrutura (22% nos estados e 18% nas capitais), órgãos centrais (18% em ambas as esferas) e economia (15% nos estados e 30% nas capitais).
Esse fenômeno é chamado de “segregação horizontal”, em que mulheres são frequentemente direcionadas a cargos em áreas associadas a funções sociais, perpetuando estereótipos de gênero.
A pesquisa introduziu um questionário de autodeclaração racial para identificar o perfil racial das mulheres em cargos de secretariado. Os resultados apontam que 57,4% das secretárias se identificam como brancas, enquanto 37,8% se declaram pretas ou pardas, 3% como indígenas e 2% como amarelas. Esses dados reforçam a percepção de barreiras estruturais para mulheres negras na ocupação de cargos de liderança, especialmente nas esferas governamentais.
Qualificação e experiência
Além da análise de gênero e raça, o censo investigou o nível de qualificação das secretárias. Entre elas, 43% possuem especialização, 26% mestrado e 10% doutorado. Entre as mulheres negras, o nível de qualificação é ainda maior, com 44% das ocupantes de cargo de secretariado possuindo especialização e 32% mestrado. Esses dados sugerem que a alta qualificação é um fator relevante para a ascensão dessas mulheres em cargos de primeiro escalão.
A experiência profissional também foi considerada no levantamento. Entre as secretárias, 66% têm mais de 21 anos de experiência, e 61% passaram a maior parte de suas carreiras no setor público. Destas, 67% já estavam no setor público antes de assumirem o cargo de secretária. A análise das trajetórias revela que 40% dessas mulheres migraram de outras secretarias, enquanto 33% foram promovidas dentro da própria pasta. Isso demonstra a importância da experiência na administração pública para a ocupação desses cargos de liderança.
O censo ainda destaca que, apesar da trajetória consolidada, 50% das mulheres ocupam o cargo de secretária pela primeira vez. Esse dado pode sinalizar uma tendência recente de entrada de mulheres em posições de liderança no setor público, mesmo entre aquelas com vasta experiência e alta qualificação.
A pesquisa também faz recomendações que visam aumentar a representatividade feminina nos cargos de liderança nos governos subnacionais. Entre as propostas, destacam-se a criação de uma lei de paridade de gênero nos secretariados, o mapeamento de estruturas de apoio para mulheres em cargos de primeiro escalão e o desenvolvimento de mecanismos para acompanhar suas trajetórias. A segunda etapa do censo, programada para novembro, incluirá dados sobre trabalho doméstico e violência política de gênero e raça, aprofundando a compreensão sobre os desafios enfrentados pelas mulheres em posições de liderança.