Aumento de gastos nas Câmaras Municipais paulistas reforça necessidade de uma gestão de recursos mais eficiente Orientação e capacitação são recomendações para o Legislativo Municipalrecuperar a saúde financeira nas cidades.Em 2023, as 644 Câmaras Municipais do estado de São Paulo, excluindo acapital, consumiram um total de R$ 3,7 bilhões em recursos públicos, umaumento de 12,66% em relação ao ano anterior. Esse aumento coloca emevidência a necessidade urgente de uma gestão de recursos mais eficaz etransparente.A análise do Tribunal de Contas do Estado mostra que nove câmaras gastarammais de 150% da média per capita estadual, com algumas chegando a gastar489% acima dessa média. Além disso, quatro câmaras municipais tiveramdespesas que excederam os recursos próprios arrecadados, evidenciando umadependência crítica dos repasses governamentais.Em resposta a esses desafios, o TCE-SP atualizou a plataforma “Mapa dasCâmaras”, lançada em 2019. Esta ferramenta de acesso público fornece dadosdetalhados sobre os custos do Poder Legislativo municipal, permitindo umaanálise e acompanhamento mais eficazes dos gastos. A plataforma agora incluinovas funcionalidades que facilitam a visualização dos julgamentos de contasdos últimos três exercícios e apresenta um quadro com o gasto médio percapita por porte do município.Para entender melhor as medidas que estão sendo adotadas e asrecomendações do Corte, o Jornal do Interior conversou com o recém-nomeado Secretário-Diretor Geral, Germano Fraga Lima.JI – Quais são as principais recomendações do TCE-SP para que as Câmarasgerenciem e contenham seus gastos de forma eficiente?GFL – Tudo deve sempre começar com um bom planejamento, fidedigno e quereflita as reais necessidades do Poder Legislativo para o cumprimento das suasfunções constitucionais.JI – Quais orientações o TCE-SP pode oferecer para ajudar as Câmaras queexcedem a média estadual a ajustarem seus orçamentos?GFL – É fato que uma determinada Câmara Municipal pode estar com suasdespesas dentro dos limites constitucionais e legais e, mesmo assim, estargastando mais do que seria razoável. É imprescindível que sejam feitos osajustes que constam dos próprios Relatórios Técnicos de Fiscalização e dosJulgamentos que o Tribunal de Contas faz sobre as gestões dos PoderesLegislativos. E aí podemos dar como exemplo um dos aspectos que maisensejam o julgamento pela irregularidade da dessas gestões, consubstanciadono excessivo número de servidores, no quadro de pessoal “inchado”.Isso somente se resolve por meio de lei e é extremamente necessário que osvereadores ajudem à mesa diretiva de seus poderes legislativo, muitas vezestendo, é verdade, que cortar na carne, mas contribuindo cada qual com sua parte e aprovando os ajustes necessários que são propostos pelos Presidentesde Câmaras.JI – Que estratégias o Tribunal sugere para melhorar a sustentabilidadefinanceira e a independência fiscal nas Câmaras?A independência financeira das Câmaras Municipais está garantida pelaobrigação constitucional do repasse dos duodécimos pelo Poder Executivo. Édifícil falar em insuficiência de recursos especificamente para as CâmarasMunicipais, sem falar na escassez de recursos públicos de forma geral oumesmo sem mencionar a má aplicação dos recursos públicos existentes.Fortalecer a ideia de que o gasto público tem que ser efetuado com melhorqualidade é um dos caminhos e é aí que os Poderes Legislativos podemcontribuir “para o todo”.Os instrumentos como a LOA, a LDO e o PPA, que passam pela aprovaçãodos Vereadores, não podem ser instrumentos de ficção. E Suas Excelênciasnão podem, mais ainda, abrir mão de suas missões constitucionais de bemexercer o Controle Externo que lhes compete. Melhora-se a arrecadação,melhora-se a qualidade dos gastos, melhora as condições de todos. Isso semdeixar de lembrar, como já disse antes, que é no planejamento que se fazemos ajustes necessários para adequar os gastos às necessidades, tal qualfazemos com nossos orçamentos familiares. Devemos gastar com inteligênciao que ganhamos.JI – Como o TCE-SP recomenda que as Câmaras Municipais utilizem asferramentas e os dados do painel 'Mapa das Câmaras' para otimizar o uso deseus recursos e aumentar a transparência para a população?Essa consulta, que é franqueada a todos de forma indistinta e transparente,como a própria pergunta sugere, pode orientar os gestores por meio damanipulação dos dados disponíveis. Permite o painel que inúmerascomparações possam ser feitas. Determinada Câmara Municipal pode a fim dese orientar comparar seus dados com os das demais e buscar junto àsexperiências eventualmente mais bem-sucedidas vividas em outrosLegislativos uma solução para seus próprios problemas.JI – Quais são as melhores práticas que o TCE-SP poderia sugerir para asCâmaras seguirem a fim de garantir a conformidade com as normas fiscais eorçamentárias no futuro?GFL – Vamos colocar essa pergunta sob o enfoque que recentemente foi dadonuma abordagem que fizemos eu, o Leandro do Observatório do Futuro e oRafael da Diretoria de Coordenação Estratégica do Tribunal. Com o objetivo decumprir a Agenda 2030, que estabelece diretrizes importantes, as CâmarasMunicipais desempenham um papel fundamental. Para isso, sugerimosrelacionar os programas governamentais constantes nas peças orçamentárias(PPA, LDO e LOA) com respectivos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável(ODS) e suas metas – prática essa já adotada, por exemplo, pelo Governo doEstado de São Paulo. Para divulgação, ferramentas como formulários online de pesquisa, redessociais e outros canais possibilitam que a população interaja e contribua paraas funções do Legislativo local, como tem sido praxe no Congresso Nacional. Ofuturo que queremos é inclusivo e colaborativo, características que osLegislativos locais representam melhor do que qualquer outro Poder.Efetividade PúblicaOutro exemplo de ferramenta que auxilia na melhoria da gestão municipal é oSelo "Efetividade Pública", criado pela UVESP. O programa de capacitação sedestina a elevar as competências dos gestores públicos por meio de umcurrículo que integra ensino teórico e prático. Com um corpo docente altamentequalificado, o Selo visa estabelecer novos padrões de excelência nacapacitação e desempenho dos participantes.O Selo funciona como um catalisador para que as Câmaras Municipais não sóatendam às exigências legais e orçamentárias, mas também aspirem a superarexpectativas, promovendo uma gestão que beneficie efetivamente acomunidade.